sábado, 14 de agosto de 2010

Parte 2

Principais pontos de discussão ( por Carolina S. Ribeiro)
Abdelwahab Bouhdiba – A Sexualidade no Islã
4. A Fronteira dos Sexos
O Islã supõe uma harmonia entre os sexos masculino e feminino no sentido de uma complementaridade. E é nessa harmonia necessária e também desejada que se pressupõe a separação dos sexos.
A diferenciação – masculino e feminino – determina a bipolaridade do mundo, o qual só encontra a sua unidade quando a harmonia está em plenitude.
Diferentemente da visão ocidental em que essa “harmonia” só pode ser alcançada na medida em que todos têm os mesmos direitos e deveres independente de gênero, para o Islã a harmonia se dá na medida em que cada gênero assume a sua condição sexual que fora determinada por Deus. Nesse sentido o homem assume a sua masculinidade e a mulher a sua feminilidade, e o mundo estaria em harmonia não porque todos são iguais, mas justamente porque são diferentes e se complementam.
Sob o aspecto de que a harmonia é o mundo em ordem, portanto de acordo com a vontade de Deus, tudo o que está fora desse quadro ordenado é visto como “desordem” e fonte do mal.
Nessa lógica em que as ações características de cada gênero tomam ares sacralizados (pois, como fora dito, constituem o desejo divino), “o desvio sexual é revolta contra Deus”.
“O Islã permanece violentamente hostil a todas as outras formas de realização do desejo sexual que são desnaturadas, pois elas vão pura e simplesmente contra a harmonia antitética dos sexos. Elas violam a harmonia da vida, afundam o homem na ambigüidade, violam a própria arquitetura cósmica.” (p. 49)
Em diante, o que faz o autor é apontar as representações de cada gênero, ou seja, como o homem expõe a sua masculinidade e a mulher expõe (ou não expõe) a sua feminilidade, e como os chamados “desvios” são assim considerados por romperem com a ordem.
• Zinà – (sexo extra-marital) Não viola a ordem do mundo no sentido de que permanece a complementaridade do masculino e do feminino, mas rompe com as modalidades dessa ordem, com os limites fixados por Deus.
• Homossexualismo – Extremamente condenado. No entanto a homossexualidade feminina é tratada com mais indulgência.
• Incesto – Assemelha-se ao zinà na medida em que é abominado mas também não extrapola a ordem fundamental do mundo (masculino – feminino), diferentemente do homossexualismo.
“É que o grande tabu sexual do Islã não é tanto não respeitar uma relação de parentesco [incesto] quanto violar a ordem do mundo, a bipartição sexual e a distinção do feminino e do masculino. Mais que uma depravação, mais que uma procura de um prazer refinado, a homossexualidade é contestação da ordem do mundo tal como quisera Deus e que fora fundada na harmonia e na separação radical dos sexos.” (p. 51)
• Travesti – Indica a confusão profunda da sexualidade e uma recusa em assumir a condição do seu gênero. Chamado de hermafrodita psicológico.
Problematiza a questão do hermafrodita “verdadeiro” ante a indefinição do seu lugar na ordem do mundo.

A delimitação rigorosa das fronteiras entre o masculino e o feminino é, enfim, necessária para que se atinja (ou mantenha) a harmonia. Desse modo a regulamentação das vestimentas marca a dicotomia sexual: para além da sua função utilitária a vestimenta torna-se uma ética.
Oposição entre barba e véu: barba – símbolo da virilidade; véu – símbolo da feminilidade. Mas a primeira como algo a ser exposto à sociedade, como uma prova da assunção de sua condição sexual e, muitas vezes, da posição social do indivíduo. E o segundo dissimulando a feminilidade que só deve ser mostrada ao cônjuge.
Olhar: “última fortaleza da fronteira entre os sexos” (p. 56). Algo não tão controlável e por isso mesmo objeto de recomendações restritivas. Implica toda uma idéia de intimidade.

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