sábado, 14 de agosto de 2010

Relatório - Reunião do dia 5 de Agosto de 2010

A reunião ocorreu na sala 21 do prédio de História da USP contando com a presença dos seguintes pesquisadores: Gabriel Mathias Soares, Karin Fusaro, Natalia Nahas Carneiro Maia, Carolina de Sá Ribeiro e Augusto Augusto Veloso Leão.

Texto discutido: Abdelwahab Bouhdiba, A Sexualidade no Islã, Cap. 4 – A Fronteira dos Sexos e a conclusão ( texto apresentado por Carolina A. de S. Ribeiro)

Próximo Encontro: 19 de agosto ( sala 21 prédio de História , das 19:30 as 21:30)
Texto para discussão : Fatima Mernissi, Beyond the veil: Male-Female dynamics in modern Muslim society. Bloomington and Indianapoli, 19087 (1975, 1st)
1. the Muslim concept of active female sexuality (pp. 27-45);
2. regulation of female sexuality in the Muslim social order (pp. 46-50, 58-60);
6. Husband and wife (108-120). A apresentação será feira por Cila .

Livro de Caldwell, capitulo : Rules for sex.

Parte 2

Principais pontos de discussão ( por Carolina S. Ribeiro)
Abdelwahab Bouhdiba – A Sexualidade no Islã
4. A Fronteira dos Sexos
O Islã supõe uma harmonia entre os sexos masculino e feminino no sentido de uma complementaridade. E é nessa harmonia necessária e também desejada que se pressupõe a separação dos sexos.
A diferenciação – masculino e feminino – determina a bipolaridade do mundo, o qual só encontra a sua unidade quando a harmonia está em plenitude.
Diferentemente da visão ocidental em que essa “harmonia” só pode ser alcançada na medida em que todos têm os mesmos direitos e deveres independente de gênero, para o Islã a harmonia se dá na medida em que cada gênero assume a sua condição sexual que fora determinada por Deus. Nesse sentido o homem assume a sua masculinidade e a mulher a sua feminilidade, e o mundo estaria em harmonia não porque todos são iguais, mas justamente porque são diferentes e se complementam.
Sob o aspecto de que a harmonia é o mundo em ordem, portanto de acordo com a vontade de Deus, tudo o que está fora desse quadro ordenado é visto como “desordem” e fonte do mal.
Nessa lógica em que as ações características de cada gênero tomam ares sacralizados (pois, como fora dito, constituem o desejo divino), “o desvio sexual é revolta contra Deus”.
“O Islã permanece violentamente hostil a todas as outras formas de realização do desejo sexual que são desnaturadas, pois elas vão pura e simplesmente contra a harmonia antitética dos sexos. Elas violam a harmonia da vida, afundam o homem na ambigüidade, violam a própria arquitetura cósmica.” (p. 49)
Em diante, o que faz o autor é apontar as representações de cada gênero, ou seja, como o homem expõe a sua masculinidade e a mulher expõe (ou não expõe) a sua feminilidade, e como os chamados “desvios” são assim considerados por romperem com a ordem.
• Zinà – (sexo extra-marital) Não viola a ordem do mundo no sentido de que permanece a complementaridade do masculino e do feminino, mas rompe com as modalidades dessa ordem, com os limites fixados por Deus.
• Homossexualismo – Extremamente condenado. No entanto a homossexualidade feminina é tratada com mais indulgência.
• Incesto – Assemelha-se ao zinà na medida em que é abominado mas também não extrapola a ordem fundamental do mundo (masculino – feminino), diferentemente do homossexualismo.
“É que o grande tabu sexual do Islã não é tanto não respeitar uma relação de parentesco [incesto] quanto violar a ordem do mundo, a bipartição sexual e a distinção do feminino e do masculino. Mais que uma depravação, mais que uma procura de um prazer refinado, a homossexualidade é contestação da ordem do mundo tal como quisera Deus e que fora fundada na harmonia e na separação radical dos sexos.” (p. 51)
• Travesti – Indica a confusão profunda da sexualidade e uma recusa em assumir a condição do seu gênero. Chamado de hermafrodita psicológico.
Problematiza a questão do hermafrodita “verdadeiro” ante a indefinição do seu lugar na ordem do mundo.

A delimitação rigorosa das fronteiras entre o masculino e o feminino é, enfim, necessária para que se atinja (ou mantenha) a harmonia. Desse modo a regulamentação das vestimentas marca a dicotomia sexual: para além da sua função utilitária a vestimenta torna-se uma ética.
Oposição entre barba e véu: barba – símbolo da virilidade; véu – símbolo da feminilidade. Mas a primeira como algo a ser exposto à sociedade, como uma prova da assunção de sua condição sexual e, muitas vezes, da posição social do indivíduo. E o segundo dissimulando a feminilidade que só deve ser mostrada ao cônjuge.
Olhar: “última fortaleza da fronteira entre os sexos” (p. 56). Algo não tão controlável e por isso mesmo objeto de recomendações restritivas. Implica toda uma idéia de intimidade.

Parte 3

Conclusão: Crise da sexualidade e crise da fé no atual mundo árabe-muçulmano

“Esses diversos ajustamentos históricos fizeram, pois, com que a ética sexual vivida pelos muçulmanos e a visão do mundo pressuposta por essa ética tivesse cada vez menos relação com as generosas declarações alcorânicas e maometanas.” (p. 303)
– O capítulo 4 se mantém no plano ideal. Apresenta a lógica de comportamentos e regras dentro do Islã no âmbito teórico, no ideal que a religião pretende. A conclusão ante aos “ajustamentos históricos” e ao distanciamento das declarações alcorânicas e maometanas detém-se na análise da sociedade, identificando as mudanças na lógica ideal do Islã a partir das leituras particulares do Alcorão pelas sociedades que se assentaram sobre a religião islâmica.
A colonização constituiu-se em um importante fator que levou a um ajustamento histórico. Ante a dominação do ambiente e do meio a reação do muçulmano foi a preservação da intimidade da família limitando a relação com o outro à exterioridade.
Desse modo mantida a identidade coletiva, a esposa, a mãe, a mulher muçulmana adquire papel central pois será ela a guardiã da tradição quando o marido deixa o ambiente dominado e adentra o lar em que tudo se mantém ordenadamente.
“Até o fim, pois, a ética sexual do Islã e os papéis que ela atribuía à mulher assegurarão uma função renovada e a mãe servirá de refúgio e de abrigo à identidade coletiva.” (p. 305)
Em seguida Boudhiba descreve os impactos sociais da modernidade na medida em que insere novas tecnologias e recria costumes e valores.
“As distorções da infeliz história dos países árabe-muçulmanos não se limitam, pois, apenas ao plano político. Elas também devem ser inferidas dessa odisséia de percepções de si mesmo como corpo, tendo que manter com a natureza e com o outro relações amplamente perturbadas por uma tecnologia terrivelmente indiscreta.” (p. 307)
No entanto toda a mudança advinda com a modernidade não representa, à mulher muçulmana, a adoção de novos costumes e valores, a adoção do progresso inevitável, mas na verdade a uma recusa do passado. Enfatiza-se na sociedade muçulmana a negação do antigo e não a afirmação do novo.
Visto que a emancipação sexual é a uma idéia da modernidade, aderi-la pressupõe a negação da tradição. Mas como fora dito a mulher se tornou pra sociedade muçulmana a guardiã da identidade coletiva assentada na tradição.
Descreve-se, adiante, uma série de situações envolvendo mulheres que escreveram à revistas femininas e determina-se ante ao desejo de viver da mulher árabe o terreno da sexualidade como o único válido para a liberação da mulher.
O autor conjuga a emancipação feminina à emancipação masculina, retomando a idéia de harmonia do capítulo 4. “A liberação da mulher passa pela liberação do homem. Esse é o preço que deve ser pago para que se realize a harmonia do casal, e, portanto, da sociedade.” (p. 314) Aborda, portanto, um assunto da modernidade sob aspecto da tradição.
Favorável a liberação sexual critica os modelos tradicionais e os importados como ambos andrólatras e atenta por uma batalha da modernidade em todos os níveis. Ultrapassa os limites de uma revolução sexual e clama para que se lute contra os privilégios também políticos, econômicos e financeiros.
Pontua a princípio uma crise sexual e religiosa, para, em seguida, determinar uma crise total da consciência humana. “Essa crise que testemunha a dificuldade que experimenta a sexualidade em se definir em um contexto no qual a modernidade é apreendida ao mesmo tempo como recusa de um inextinguível ontem e como a vontade de viver um amanhã que tarda um pouco a chegar.” (p. 323)
Retoma, finalizando, a questão da sexualidade:
- crise sexual como uma crise nas relações interpessoais na medida em que sexualidade é o diálogo com o outro.
- deixa clara uma crítica à modernidade e uma exaltação da tradição do Islã, entretanto sem medir ou refletir em formas práticas a essa realização.
“Organizando sobre uma base institucional o jogo sexual, introduzindo nele uma sofisticada dialética do público e do privado, do lícito e do ilícito, o Islã dava sentido positivo à sexualidade. Isto é, um sentido positivo a si mesmo e ao outro. Privando a sexualidade de seu mistério, eu me despojo de minhas próprias significações. Donde este erotismo sem alegria, sem odor, sem cor, sem sabor, e que apenas é bestialidade.” (p. 324-325)
“Nada nem ninguém nascem por geração espontânea, e em matéria de cultura o legado pode ser alienado, e as mais autênticas revoluções são sempre as que sabem reencontrar as profundas continuidades do amanhã com o hoje e com o ontem.” (p. 326)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cronograma do GT para o Segundo Semestre

As atividades que estamos planejando são:

19 / agosto – Discussão de textos ( Fatima Mernissi )



Semana entre os dias 30 de agosto e 3 de setembro : debate virtual com grupo de mulheres do Irã ( a confirmar )



23/ setembro – discussão de textos



04/ novembro – discussão de textos



16 ou 17 de novembro – Debate sobre Líbano com Ramez Philippe Maalouf ( comentário de Renatho Costa)[ a confirmar ]



7,8 e 9 de dezembro – Congresso do LEA [ a confirmar ]