segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Relatório da Reunião do dia 28/10

Reunião do GT OMMM , 28/10/2010

A reunião ocorreu na sala 21 do prédio de História e Geografia contando com a presença dos seguintes pesquisadores: Cila Lima, Karin Fusaro, Augusto Veloso Leão, Gabriel Mathias Soares, Carolina A. de S. Ribeiro e Marina Galvanese.

Textos: A Mulher no Islã ; O Islã é...; “Breve Guia Ilustrado para Compreender o Islã”
Autores: Pete Seda, Abdel Azim e I.A Ibrahim



Apresentação: Marina Galvanese

Síntese da Discussão ( por Marina Galvaneze ) :


Os três textos sugeridos para leitura visam à divulgação do Islã, sendo facilmente encontráveis na internet, em diversas línguas. Os três autores (Pete Seda, Abdel Azim e I.A Ibrahim) são muçulmanos que têm por objetivo afirmar o Islã, apresentando suas principais crenças e respondendo aos principais ataques vindos do Ocidente.
Abdel Azim é autor de A Mulher no Islã – mito e realidade. É Ph.D em Engenharia pela Queens University, Canadá, e professor da Universidade do Cairo. A leitura do artigo “O Islã não está sozinho nas doutrinas patriarcais” do Historiador e Jornalista Gwyne Dyer deu a ele o ponto de partida para a escrita dessa obra. Ele procurou, por meio da leitura dos livros sagrados das três religiões (Cristianismo, Judaísmo e Islã), verificar qual é o tratamento dado à mulher em cada uma delas.
Pete Seda, autor de O Islã é..., é (segundo informações encontradas na internet) iraniano. Ele imigrou para os Estados Unidos em 1976. Em 1994, naturalizou-se americano e americanizou o nome. Ele é um estudioso do Alcorão e dá palestras pregando a paz e a tolerância religiosa. A primeira edição do texto é de 2004. “O Islã é...” introduz o Islã, explicando como surgiu essa religião, quais são as suas principais crenças e os principais pecados (como o politeísmo), explica os seis artigos de fé e como uma pessoa se torna muçulmana. Conta quem foi Mohhamad e o que é o Alcorão. Aborda temas polêmicos como as vestes islâmicas e a posição da mulher no Islã.
Sobre o autor do último texto “Breve Guia Ilustrado para Compreender o Islã”, I. A. Ibrahim, não foram encontradas maiores informações. Nele, o leitor encontra argumentos em defesa da verdade das palavras do Alcorão, os benefícios oferecidos pelo Islã ao indivíduo, como a salvação do inferno, felicidade real, paz interior e porta para o Paraíso. No terceiro capítulo ele fornece informações gerais sobre o Islã de forma breve e resumida.
A análise e apresentação dos textos se deu ainda com base em um quarto livro “L´Islam Mondialisé” (Paris: Éditions du Seuil, 2002) do francês Olivier Roy, estudioso das redes islâmicas no mundo. Roy estuda a passagem do Islã ao Ocidente por meio das migrações populacionais, e defende a tese de que houve uma “ocidentalização incompleta” desses indivíduos que buscam desenvolver sua religiosidade longe de uma evidência social capaz de impor um certo conformismo de crenças e práticas. É a partir dessa relação do Islã com o Ocidente que os textos foram analisados, já que todos os autores objetivam responder a críticas ocidentais feitas aos muçulmanos.
É em função desse diálogo com o Ocidente que os três textos abordam o tema da mulher no Mundo Muçulmano, reconhecendo que em muitos países de maioria muçulmana, os direitos das mulheres não são respeitados. Eles justificam esse desrespeito como um afastamento das práticas em relação à religião, defendendo, portanto, uma separação dos campos religioso e cultural. Assim, seria um equívoco culpar o Islã por essas práticas. Quem vai mais a fundo nessa questão é Abdel Azim, cuja obra tem por finalidade defender o Islã das acusações de chauvinismo feitas por ocidentais. Para tanto, ele procura mostrar que nos livros sagrados do Cristianismo e do Judaísmo a mulher não desfruta de grandes direitos. Não cabe aprofundar aqui todos os tópicos por ele discutidos nem todos os argumentos utilizados (muitos deles, questionáveis), mas atentaremos para um deles, presente também nos outros dois textos: o que se refere ao uso do véu. Esse tópico aprofunda o embate travado com o Ocidente e é discutido por todos os autores justamente pela condenação que países como a França fazem de seu uso por considerá-lo um símbolo maior da opressão da mulher. Todos os autores negam essa forma de compreender o véu, que seria um elemento de proteção da mulher, garantidor da modéstia e da não-degradação da sociedade. É a forma pela qual a mulher exige respeito. É interessante, nesse sentido, o que Roy diz sobre afirmação do Islã. Segundo ele, é necessário que se crie um discurso explícito e simétrico, que tome para si as categorias do Outro. Ou seja, a discussão acerca do véu não parte do Oriente, mas da ocidentalização, da presença de mulheres muçulmanas em países ocidentais.
Outro tópico abordado tanto no texto de Seda quanto no de Ibrahim é o terrorismo. Aqui mais uma vez, em função da idéia divulgada no Ocidente segundo a qual o Islã defende os atos terroristas. Esses autores argumentam que aqueles que praticam o terrorismo em nome do Islã não seriam verdadeiros conhecedores das palavras de Deus (transmitidas pela última vez pelo último dos profetas, Mohhamad), já que o Alcorão defende os direitos humanos.
Chegamos aqui a um terceiro ponto importante: a idéia de verdade religiosa. O título do livro de Seda ilustra essa crença de que existe apenas uma verdade religiosa. “O Islã é...”, como se houvesse um único Islã possível. Ibrahim, no primeiro capítulo do seu Breve Guia Ilustrado para Compreender o Islã, busca na ciência e em autoridades científicas a confirmação para os escritos do Alcorão. Ou seja, ele procura explicar racional e cientificamente, a fé. Ele busca na verdade científica tão difundida no mundo Ocidental desde o Iluminismo a confirmação para a fé e a justificativa para o crescimento e força dessa religião.
Com relação à busca por uma verdade religiosa, Roy diz que muçulmanos moderados se esforçam em mostrar que os seguidores de Bin Laden se afastaram do Islã e não sabem nada sobre ele. E prossegue dizendo que a questão não é saber exatamente o que diz o Alcorão, já que, como todo livro sagrado, está sujeito a leituras e interpretações. Como para eles, o verdadeiro Islã é aquele que apresentam, vêm uma dissociação entre práticas culturais e religião. A pergunta que fica é: até que ponto essas duas esferas podem ser separadas, como se fossem independentes uma da outra?
Para concluir, pode-se dizer que esses textos são a voz de muçulmanos que respondem a críticas e buscam se afirmar por meio de categorias do Ocidente.

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