quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Relatório da Reunião do dia 19 de agosto

A reunião ocorreu na sala 21 do prédio de História da USP contando com a presença dos seguintes pesquisadores: Karin Fusaro, Natalia Nahas Carneiro Maia, Carolina de Sá Ribeiro e Cila





Texto discutido: MERNISSI, Fátima. Beyond the Veil: Male-Female Dynamics in Modern Muslim Society. Indiana Press, 1987.



Principais pontos de discussão ( por Cila )



Fátima Mernissi é marroquina, nasceu em Fez em 1940, socióloga, feminista e formada em Ciências Políticas nos EUA. Vários dos seus livros foram muito divulgados e traduzidos. Esse livro Beyond the veil, cuja primeira edição é de 1975 e última edição em 1987, é um dos mais importantes.

Muçulmana modernista propõe em algumas de suas obras novas interpretações para os ahadith (tradições escritas sobre atos ou dizeres do profeta), alegando que esses foram interpretados com tendências masculinistas. Para ela (1987: 8), a situação de subordinação da mulher no mundo muçulmano advém de uma junção dos valores ocidental-cristãos e os orientais e islâmicos.

Ela é radicalmente contra o uso do véu, considera-o como símbolo da segregação sexual e como um mecanismo para a “invisibilidade” da mulher nos espaços públicos.

Para ela o espaço como componente de sexualidade (ou a sexualidade como componente do espaço) (1987: XV), ou seja, o arranjo espacial no interior das casas e na divisão entre o público e o privado, é um dos mais importantes instrumentos de segregação sexual.

Na introdução desse livro ela faz uma severa crítica ao fundamentalismo, focando no seu chamado para o uso do véu, considerando-o como um sintoma de que as mulheres estão se modernizando. Esse enfoque da autora se deve a ela considerar que o chamado para o véu feito pelos fundamentalistas é um dos mais salientes eventos no fim dos anos 70 e 80, em dois planos: na dimensão factual e na dimensão latente (1987: XV). Ela considera a onda de conservadorismo fundamentalista uma afirmação sobre identidade (1987: VIII).

Nos dois primeiros capítulos (1987: 27-57) a sua linha teórica segue a estrutura binária de oposição entre Ocidente e Mundo Muçulmano e para Mernissi o Islã tem uma teoria mais sofisticada para os instintos, pois não se resume à polarização entre carne e espírito, bom e mal, instinto e razão. A série de leis islâmicas decide quais usos dos instintos são bons e quais são maus. Ou seja, na visão islâmica é o uso dos instintos e não eles próprios que é benéfico ou prejudicial à ordem social: se a agressividade e o desejo sexual forem aproveitados na direção correta, serve aos propósitos da ordem muçulmana; se suprimida ou usada incorretamente, elas podem destruir essa ordem (pgs. 27-28).

Mernissi menciona alguns autores muçulmanos que discutem a sexualidade no Islã, sendo eles: Imam Ghazali (1050-1111) cuja teoria é sobre o antagonismo entre desejo sexual e ordem social, ressaltando que o caráter divino da sexualidade é o da reprodução. (pgs. 29-30).

Qasim Amin (1863-1908, jurista egípcio considerado o primeiro feminista desse país, escreveu, entre outros, os livros A liberação das mulheres e A nova mulher (árabe, com tradução para o inglês)). A sua conclusão é que as mulheres são mais hábeis para controlar seus impulsos sexuais, então a segregação sexual é um dispositivo para proteger os homens. Ressalta o significado de Fitna (desordem ou caos) também como mulher bela (femme fatale). O autor elabora a dupla teoria das dinâmicas sexuais: contradição entre uma teoria explicita (a crença que o homem é agressivo em sua interação com a mulher e as mulheres passivas) e uma implícita (mulheres podem ser controladas para prevenir homens de serem distraídos das suas obrigações religiosas e sociais (pgs. 31-32)).

Abbas Mahmud al-Aqqad (escritor egípcio 1889-1964), que nos traz as mesmas informações que o Bouhdiba, por exemplo, a complementaridade dos sexos e a supremacia masculina (pgs. 32-33). Aqqad, endossando a teoria de Freud, conceitua a mulher como masoquista e que sofre da síndrome da castração.

Além de Freud ela menciona também George Murdock, antropólogo estadunidense (1897- 1985), cuja teoria é de que o mundo se divide em dois grupos de sociedades de acordo com a maneira de lidar com os instintos sexuais: o primeiro utiliza dispositivos de forte internalização das proibições sexuais durante o processo de socialização; o segundo utiliza precauções externas garantidas como regras de abstenção. A Ocidental é do primeiro tipo e as sociedades que usam o véu do segundo tipo (pgs. 30 a 31).

Para Mernissi, há a concepção de que a mulher é “passiva”, nas sociedades em que não há sistema de reclusão, por exemplo, nas ocidentais; e há a concepção de que a mulher é “ativa”, nas sociedades em que há um sistema de reclusão, por exemplo, nas muçulmanas (pgs. 30-31).

Nas páginas seguintes desses capítulos apresentados o que mais chama a atenção é a preocupação das leis islâmicas com os mais variados detalhes das performances pessoais, sobretudo das relações sexuais, as quais são realizadas sob preceitos ritualizadores no intuito de permanecerem com o que acreditam ser uma proximidade com Deus.





Próximo encontro: 16 de setembro ( bibliografia a definir em breve )

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