terça-feira, 20 de abril de 2010

Relatório da Reunião do GT do dia 08/04/2010

A reunião ocorreu na sala 21 do prédio de História e Geografia contando com a presença dos seguintes pesquisadores: Gabriel Mathias Soares, Karin Fusaro, Natalia Nahas Carneiro Maia, Carolina de Sá Ribeiro, Claudia Crescente, Sarah Sette, Augusto Veloso Leão e Marcelo.
Texto discutido: Walter Laqueur, “The Origins of Fascism: Islamic Fascism, Islamophobia, Antisemitism”
Disponivelaem:
http://www.laqueur.net/index2.php?r=2&rr=4&id=49
Filme discutido: Fitna , dirigido por Geert Wilders. Disponível em :
http://www.themoviefitna.com/fitna-the-movie/

Apresentações: Carolina de Sá Ribeiro sobre o filme Fitna, Ariel Finguerut sobre a nova direita européia e Karin Fusaro sobre o texto de Walter Laqueur.

Principais pontos de discussão: Na discussão do filme Fitna salientou-se seu caráter radical de perfil anti-muçulmano com forte relação com o contexto holandês do inicio do século XXI. Quando 1/5 da população holandesa é composta por estrangeiros o filme nos permite pensar como a Holanda convide com os muçulmanos. Entre políticas restritivas e integracionistas o caso holandês nos serve para discutir em linhas gerais o problema muçulmano na Europa. Esta discussão contextualizou o quadro apresentado sobre a nova direita européia onde se destacou as diferentes “direitas” que encontramos na Europa e como a nova direita nascente nos anos 60, principalmente na França, dialoga com o “problema muçulmano” hora discutindo a identidade européia, hora discutindo uma cultura europeu. Neste sentido destacou-se a leitura anti-União Européia, organicista e comunitária da Europa com estreito dialogo com intelectuais do ecologismo e com certa apropriação da leitura de Gramsci do papel dos intelectuais na sociedade e vida política. Já na discussão sobre Walter Laqueur , Karin Fusaro destaca que : o texto de Walter Laqueur discute o emprego e a eficiência das terminologias islamofacismo (ou fascismo islâmico), islamofobia e antissemitismo, apontando sua análise para um problema de definições que, segundo ele, seria fruto de uma generalização de conceitos e anacronismo histórico.

Islamofascismo
No livro Facism: past, present, future (Oxford University Press, 1996), Laqueur já apontava o uso impreciso do termo fundamentalismo. A expressão, que hoje representa qualquer movimento radical que tenta impor suas crenças por meio da força, não é, segundo Laqueur, um “monopólio islâmico”, pois está presente também no cristianismo e no judaísmo, entre outras religiões. Sua forma extremada leva ao terrorismo político, como no caso de assassinatos praticados nos EUA por ativistas antiaborto (o último foi contra um médico no Kansas, em maio de 2009), o Kahanismo (movimento da extrema direita sionista cujo braço político, o partido Kach, foi banido do Knesset em 1988) e os ataques de hindus contra os muçulmanos na Índia. Fundamentalistas têm exercido pressão sobre os governos seculares na América, Europa e Ásia, mas é no mundo muçulmano que os radicais adquiriram posições políticas e poder suficientes para se fazer notar, como na Argélia e Afeganistão.

Ao longo do século XX houve alguma discussão sobre a possibilidade de existir um movimento fascista com elemento religioso. Acabou prevalecendo o argumento de que a combinação fascismo + religião seria incompatível, pois ambos têm caráter holístico. No entanto, Laqueur afirma que para alguns movimentos muçulmanos radicais não é difícil combinar o fanatismo religioso com a militância nacionalista, como é o caso do governo iraniano sob Mahmoud Ahmadinejad.

Apesar de as pesquisas remeterem a origem do termo “islamofascismo” ao orientalista francês Maxime Rodinson e ao inglês Malise Ruthven, Laqueur acredita que o autor Manfred Halpern foi o primeiro a utilizá-lo, em 1963. No livro Politics of social change in Middle East and North Africa, Halpern escreveu que os “movimentos totalitaristas neoislâmicos são essencialmente fascistas” e que mobilizam paixão e violência para aumentar o poder de seu líder carismático.

Laqueur acredita que existem, sim, elementos comuns entre o fascismo e os movimentos muçulmanos radicais (populismo, antiocidentalismo, antiliberalismo, antissemitismo, agressividade e expansionismo). No entanto, o fascismo é um fenômeno europeu e outros regimes autoritários fora da Europa tiveram muitas especificidades. Para ele, os movimentos muçulmanos fundamentalistas seriam pós-fascistas, com a ressalva de que o termo exagera o papel da Europa em seu surgimento e formação. No caso do Irã de hoje, o regime estaria mais para um novo populismo e forma oriental de despotismo do que para fascista.

Um forte argumento contra o uso do termo fascista para regimes muçulmanos é de que ele seria ofensivo, especialmente para os árabes. A ironia apontada por Laqueur é que os termos liberal e secular causam recusa maior já que a conotação negativa dos termos fascismo e nazismo é a interpretação ocidental a partir dos efeitos nefastos provocados por estes regimes na Europa.

Islamofobia
Usado para designar a discriminação de muçulmanos nas sociedades ocidentais, islamofobia é um termo tão dúbio quanto islamofascismo. Em primeiro lugar porque, para Laqueur “não existe medo do Islã nos países ocidentais”. Segundo ele, aqueles que acreditavam que o Islã era um bloco homogêneo deixaram de fazê-lo ao ver as disputas entre sunitas e xiitas no Iraque. Para ele, defender que os muçulmanos são alijados das sociedades ocidentais é um argumento que os religiosos radicais utilizam para manipular seus fiéis.

Por diferentes razões, islamistas radicais também criticam o uso da palavra islamofobia. Um linha defende que racismo anti-islâmico é mais adequando. Para Laqueur este argumento contém a ideia absurda de uma “raça” muçulmana que agregaria fiéis de regiões como Kosovo, Senegal, Indonesia, Grã-Bretanha, França e Estados Unidos. Uma segunda corrente afirma que os muçulmanos são atacados enquanto grupo étnico-religioso, que o preconceito seria baseado não no tom da pele, mas em noções de superioridade cultural.

Para Laqueur, o mais corretor seria afirmar que o mundo hoje carrega o terrorfobia, que seria o medo doentio de movimentos extremistas tentarem impor sua lei religiosa e estilo de vida ao resto do mundo. Ele argumenta que a xenofobia (ataques contra imigrantes) nos países europeus não têm base religiosa. Apesar de não negar a existência de conflitos e tensões entre muçulmanos e não muçulmanos, para Laqueur o uso do termo islamofobia pretende atribuir responsabilidade e culpa aos grupos que rechaçam o Islã radical.

Antissemitismo
A palavra que dá a ideia de uma oposição ao semitismo é usada de forma bastante infeliz. Ela é usada para designar uma hostilidade contra judeus enquanto povo, religião ou grupo cultural. Entretanto, semitismo é um termo mal apropriado da lingüística, pois semítico é um tronco lingüístico de onde se originaram idiomas como o fenício, árabe e hebraico. Portanto, não existe uma religião ou um povo semita. Na lógica da apropriação do termo, muçulmanos argumentam que não poderiam ser antissemitas já que são semitas.


PAUTA PARA A REUNIÃO DE 6/05/2010
- discussão dos textos: Ibn Warraq, Why I am not a Muslim. New York: Prometheus, 2003 (1995,1st).pag.86-103,(Ch.4:“Muhammad and his message”).
O livro se encontra na biblioteca da FFLCH, e os capitulos estão xerocadas num pasta no Xerox da Ana Paula [COPIADORA AQUÁRIO]/ Prédio de História. Robert Spencer, The Politically Incorrect Guide to Islam and the Crusades. Washington, D.C.: Regnery, 2005.
pp. 19-63 (cap.. 2: The Qur’an: Book of War, 3: Islam: Religion of War, e 4 Islam: Religion of Intolerance”) e pp. 221-231(Ch. 18: “The Crusade we must fight today”). Oriana Fallaci Rage and Pride (29-9-2001) está disponível em tradução inglesa:
http://digilander.libero.it/september11/Oriana%20Fallaci.htm. Os seminários ficaram a cargo de Claudia Crescente , Nathalia e Carolina.

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